Guri e Guria vão casar

por Rafa
25 fevereiro 2018

Em dezembro eu fiz o pedido de casamento pra minha guria depois de um ano juntos, quatro meses de planejamento e uma viagem surpresa.

Quero sempre lembrar com carinho deste momento tão especial nas nossas vidas. Não só o momento, mas como toda boa jornada, a preparação também tem o seu valor. E este pedido de casamento me tirou um sono que vou te contar...

Vi que não estava muito longe de fazer a famosa pergunta quando eu escrevi um texto pra ela em maio, nem seis meses depois de a gente se conhecer. Como dá pra perceber gosto muito de escrever e acredito ser a forma que eu consigo me expressar melhor.

Havia alguns dias que a gente falava em hora dessas comprar passagens pra Edimburgo e passar um final de semana por lá. Ela gosta muito da cidade e eu também (quem não?) então pensei que seria o lugar perfeito pra perguntar se ela tava a fim de passar toda a vida comigo e fazer o pedido de casamento. Quatro meses e meio antes de viajar eu comprei as passagens de trem pra gente ir pra capital da Escócia e guardei o segredo até a plataforma, segundos antes de embarcar.

No dia da viagem ela acreditava estar fazendo um favor pra uma amiga nossa (obrigado Rosie) e saiu, toda inocente, pra esperar um tio do marido dela de 88 anos que estaria vindo de Paris de trem e precisaria de acompanhamento no metrô desde a estação de King's Cross até a casa da Rosie. Enquanto isso eu estaria encontrando um casal de clientes meus, os últimos antes das nossas desejadas férias. Os planos de ir apenas na natação e ver alguns amigos foram substituídos por muita caminhada e paisagens cheias de cores.

Quando ela saiu de casa eu comecei a arrumar a mala (havia feito uma lista com tudo o que precisava levar pra ter certeza que não iria esquecer de nada). Nervoso, reconfirmei umas três vezes se não estava esquecendo de nada, mesmo a mala nem fechando direito. Enfrentei o ar gelado de Londres pela última vez pelos próximos quatros dias e cheguei em King's Cross 25 minutos antes da saída do trem.

Encontrei na estação uma Julia nervosa, tensa, de ter saído do local que era pra encontrar o tal senhorzinho, de deixar uma responsabilidade pra trás - sendo que a responsabilidade ainda estaria passando por debaixo do Canal da Mancha naquela altura. Julguei ainda ser cedo pra revelar tudo pra ela, meio que me apeguei ao segredo, e ao invés de abrir o jogo eu disse que iríamos passar uma noite em Cambridge - o que ela reagiu de forma bem duvidosa ficando mais de cinco minutos no banheiro tentando falar com a nossa amiga pra saber se realmente não tinha ninguém pra esperar.

Só na plataforma, caminhando em direção ao nosso vagão, é que ela leu o "Edinburgh" escrito na porta do trem e ficou sem saber como reagir. Uma pausa com a boca aberta, uma risada nervosa misturada com choro, o "obrigado" misturado com o "quero te matar" e com o "é verdade?".

Foi verdade e a viagem toda eu já contei neste post então podemos pular pro último dia.

edimburgo Princes Street vista do topo do Scott Monument

O pedido de casamento

O que eu disse é que havia ganhado um treasure hunt (caça ao tesouro) de uma companhia que vende este serviço pelo Reino Unido. A gente já havia feito uma vez em Londres e seria bacana poder fazer novamente, mas agora em outra cidade. Ao invés de deixarmos a bagagem no próprio hotel (eles ofereceram de graça) a gente optou por deixar na estação de trem, por ser mais fácil de pegar ao voltar pra Londres. Isso, claro, era parte de mais um plano: não deixar o ukulele pra trás porque ele fazia parte do momento mais importante da minha vida.

Claro que durante a caça ao tesouro eu fiz de conta que não sabia de nenhuma resposta, e a cada vez que ela respondia uma pergunta ou decifrava um enigma eu vibrava por dentro, em silêncio. Ou ignorava quando ela reclamou de ter uma escada gigante pra subir (evite aquela escada, sério).

Eu vi novamente aquela mesma cara de incrédula quando por fim, em frente ao prédio do Old Observatory House, com a vista mais famosa de Edimburgo, a gente escaneou um código e abriu um vídeo meu. Ela estranhou por não ter visto aquele vídeo ainda, e aí a ficha caiu, que era um texto/vídeo especial pra ela. Era o início do pedido de casamento. O texto que eu li foi este:

O que eu quero

O que eu quero é simples.
É só um abraço apertado antes de dormir
O que eu quero é dar gargalhada de cócegas inesperadas.
Talvez até cócegas inesperadas seja o que eu queira.

Quero coçar as tuas costas antes de ir dormir.
Quero te ouvir falar coisas sem sentido de madrugada (menos que me ama, essa faz todo sentido do mundo!).
Quero aproveitar desta situação pra te forçar a falar inglês.
Quero acordar com músicas ruins ou muito antigas.
Quero ouvir a piada do tomate atravessando a rua. E rir dela sempre.
E quero continuar te fazendo passar vergonha no metrô ou na rua.

O que eu quero é sair de mão dada sem dar bola pras pessoas que reparam na nossa diferença de altura.
O que eu quero é que as pessoas acreditem que um amor pode ser intenso o tempo todo e não apenas nos primeiros dias ou meses de namoro.
Quero que todos os casais do mundo sejam tão felizes como a gente é.

Quero que a gente mantenha sempre nossa promessa de ser sincero e verdadeiro um com o outro.
E também quero que a gente mantenha aquela outra promessa de nunca dormir brigados.
E principalmente que a gente continue assim, sem brigar.

Quero continuar confiando e ter a certeza que tu faz o mesmo.
Quero continuar sentindo o teu amor, aquele que a gente ainda não conseguiu expressar em palavras.
Quero continuar sem ficar emburrado, e não te ver ficar emburrada.
Quero descobrir cada coisa compatível a cada novo dia que a gente passa junto.

Quero te agradecer pela pessoa incrível que tu é e por o universo ter feito nossos caminhos se cruzarem da forma como foi e no momento que foi.

Quero todos os dias cozinhar
Quero todas as semanas flores te dar
Quero todos os meses contigo viajar
E quero todos os anos me re-apaixonar.

Quero conversar madrugada adentro, e cumprir a promessa de contigo dormir ao relento.
Quero fazer surpresas legais, porque da tua cara de espanto não me canso jamais.
Quero falar sobre as nossas famílias, e um dia falar sobre a nossa família.
Quero falar sobre nossos amigos. Até porque a gente não tem inimigos.

Quero muito que tu sejas mãe dos meus filhos. O que eu quero é ser feliz. Contigo. Sempre.
Quero sempre poder, do nada, resolver tocar uma música contigo ou pra ti.

Dentre tantas coisas que quero tem uma que eu não quero mais. Te ligar de madrugada pra falar que te amo. Pra isso o que eu quero é só poder botar o braço pro lado. Mesmo que no outro dia tu não lembre de nada.

Dá a impressão que este texto foi sobre mim, sobre coisas que eu quero. Mas de verdade mesmo o que mais quero é poder te fazer a mulher mais feliz do mundo.

Julia, eu te amo.


Em determinado momento eu precisei interagir com o vídeo e aí sim cantar uma música pra ela, escolhida com carinho, por termos assistido How I Met Your Mother juntos e claro, pelo significado da letra da música. Esta é a tal:

Abrace-me forte e abrace-me rápido
Esse feitiço que você lança
Esta é "a vida em cor de rosa"

Quando você me beija o Céu suspira
E embora eu feche os olhos
Eu vejo "a vida em cor de rosa"

Quando você me pressiona junto ao seu coração
Eu fico em um mundo à parte
Um mundo onde as rosas florescem

E quando você fala
Anjos cantam lá de cima
As palavras comuns parecem
Se transformar em canções de amor

Dê o seu coração e alma para mim
E a vida sempre será
"a vida em cor de rosa"


Neste caso "a vida em cor de rosa" tem um sentido de "a vida é bela" ou "vida boa", como dá bem pra perceber pelo contexto.

Mas o "tesouro" de verdade estava por vir. O segundo envelope é que seria o prêmio. Ela abriu e atrás da folha com o texto que ela tinha acabado de ouvir de mim pelo vídeo estava a pergunta que eu queria ter feito pra ela há meses, finalmente o pedido de casamento: will you marry me?

Ela disse sim (até porque senão ficaria um post bem triste pra estar escrevendo) e um chinês registrou o momento pra gente. Calton Hill sempre vai ter um outro significado pra gente.

Noite pós noivado: Highlands

Voltamos pra estação pra pegar as malas mas ao invés de pegarmos o trem, mais uma surpresa foi desvendada - e pra meu alívio a última delas, já não aguentava mais não poder contar tudo o que havia planejado: pegamos um carro na Enterprise e dirigimos na tarde escura da Escócia até Fort Augustus. O Lago Ness permaneceu um mistério até a manhã seguinte, por termos chegado lá apenas às 21h. No restaurante The Brasserie (junto do The Lovat) tivemos o melhor jantar em um restaurante até o dia que estou escrevendo este post. Recomendo de olhos fechados uma massa vegetariana deles.

O hotel que ficamos, o Loch Ness Guest House, fica no centrinho de Fort Augustus, há 3 minutos caminhando dos canais e 5 da margem sul do Lago Ness. Ele é bastante funcional, limpo, bem localizado e tem até um bichinho de pelúcia pra fazer companhia no quarto. Depois de tomar café da manhã no dia seguinte fomos viver a paz do Lago Ness visto da sua margem sul. A imensidão chama atenção. A grande extensão atiça a curiosidade de saber o que, afinal, existe descendo 227 metros dali.

A recepção estava fechada quando a gente chegou, mas tinha este bilhetinho nos esperando. =)

Voltamos pra Edimburgo apreciando a paisagem fria e seca das Highlands, cercado por lagos com água espelhada e árvores sem folhas, debaixo de um céu azul apesar do frio de quatro graus que nos acompanhou. Passamos pela imensidão de Glencoe e pelo Glenfinnan Viaduct, que ganhou a identificação carinhosa de "viaduto do Harry Potter". Ainda vou falar com o carinho e cuidado que estes locais merecem sobre eles, então não deixa de te inscrever pra receber minha newsletter mensal aqui.

O casamento vai rolar em maio e claro que vou contar tudo por aqui também, então eu se fosse tu não deixaria MESMO de te inscrever na newsletter ou me seguir nas redes sociais (@GuriinLondon por tudo!). Voltamos pra Londres com o coração cheio e com a certeza de um futuro juntos e cheio de amor, como tem sido nossos dias.

Julia, eu te amo.

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