- Não se meter na vida alheia
- Ser discreto.
- Seguir as regras 1 e 2 sempre.
Foto: Getty Images. |
Sobre não se meter na vida dos outros, o escritor David Coimbra (que já usei um texto dele aqui) citou uma cena clássica que aconteceu no metrô de Londres. Ele contou no blog dele o seguinte:
Estava distraído no metrô, o carro parado na estação de Oxford Circus. A voz feminina do sistema de som pediu que as pessoas tivessem cuidado com o “gap” entre o vagão e a plataforma, as portas se abriram e uma onda de passageiros escoou para fora. Então, uma carteira surgiu no chão do trem. Era uma carteira cor de laranja, supus que fosse de mulher, por ser muito chamativa. Uma carteira bem fornida, decerto com documentos, vá lá que alguns pounds. Tinha o tamanho da palma da mão de um homem. Devia pertencer a alguém que havia saído naquele exato instante.
Olhei para a carteira, outros passageiros no entorno olharam também. Aí, um senhor de óculos se abaixou, colheu-a como se fosse um cravo gentil e, gentilmente, a depositou num encosto do vagão. Deixou-a ali, e todos a deixaram. O trem seguiu, serpenteando pelos intestinos da terra milenar de Londres, e os grupos de passageiros foram sendo trocados a cada estação. Fiquei observando a reação deles ante a carteira que continuava deitada no encosto do trem. Eles a viam, viravam as cabeças e voltavam a se fazer o que estavam fazendo antes: lendo o jornal que ganharam na entrada da estação, lidando com o celular ou pensando, simplesmente pensando.
Mas não se engane. Não cheguei à conclusão de que os ingleses são mais honestos do que os brasileiros devido a esse episódio. Só que também não acho que os brasileiros reagiriam da mesma forma diante de uma carteira perdida. Uns iam embolsá-la descaradamente, outros furtivamente, e também haveria quem pegasse a carteira, anunciasse em bom volume a descoberta e a entregasse para um funcionário da estação. O certo é que os brasileiros não ficariam indiferentes à carteira. Os ingleses ficaram.
Por quê?
Não é pelo diferenciado quociente de honestidade dos dois povos. É porque os ingleses, ao contrário dos brasileiros, têm o hábito de não se meter na vida dos outros. Tal característica pode ser distinguida com clareza, precisamente, no metrô. Ninguém olha para ninguém, no metrô. Os ingleses estão ensimesmados, ocupados com seus próprios assuntos. Alguém pode achar que isso é muito solitário, que os ingleses não se preocupam com as outras pessoas. É o contrário. Essa é uma prova de respeito às outras pessoas. Quem não respeita o outro invade o espaço do outro sem convite. O que pode ocorrer de inúmeras formas, inclusive com um olhar insistente dentro de um trem.
Tri, né!? O post continua e tu pode ler tudo aqui. Não preciso nem dizer mais nada.
E a regra número dois: não importa o que importar, seja discreto. Publiquei no post passado uma frase que é quase um lema britânico (apesar de ser de um escritor francês):
"Elegância é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se deixar distinguir" (Paul Valéry).
- Se a Rainha quiser deixar um jantar em 5 minutos, ela coloca a sua bolsa em cima da mesa. Dessa forma ela consegue informar discretamente aos seus funcionários que quer se retirar.
- Se você um dia tiver o prazer de conversar com a Rainha e ela ficar movendo a bolsa de um braço para o outro, isso é um péssimo sinal! Ela faz isso se estiver numa conversa entediante e quiser uma intervenção.
- Ela mantém um ganchinho dentro da bolsa para pendurá-la discretamente embaixo das mesas.
- Ela não se incomoda de repetir a mesma roupa (tá, não que seja um ato de discrição, mas achei demais!)
Foto: British Monarchy. |