John Williams fez alguma bruxaria com aquela música de introdução de Harry Potter. É só ouvir o “tan-taran-tan, tan-tan” que já da um arrepio. Falo sem medo e sem vergonha, sei que não sou só eu. Agora imagina ouvir isso no Royal Albert Hall...
E ainda se esta experiência for ao vivo, com uma orquestra, já fica ainda mais extremo. Cutucar a pessoa ao lado como quem diz “tá ouvindo?” é praticamente parte do ritual. Desta vez só teve a adição de mais uma coisa: apontar o dedo mostrando a tela gigante logo acima da orquestra. Como parte do “Films in Concert” fui assistir Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban. Meio que ao vivo.
"Meio que" porque não é teatro. É o filme mesmo, mas sem a trilha, nem efeitos, que aí que entra a orquestra: tudo feito ao vivo. Mas não é apenas isso. É também em como um filme consegue se transformar num concerto. E como um concerto consegue contar uma história com os seus twists, com o coral e com notas bem escolhidas. Detalhes sonoros que antes passavam sem ser percebidos, o que é perfeito pra um filme, agora são realçados pelo ao vivo e impecável.
Tudo é feito com tanta perfeição que por algumas vezes só via que a música era tocada pela orquestra quando minha guria me cutucava e apontava. Também pudera, tinha momentos que só um violinista solava, ou que outros pinçavam as cordas, ou ainda que o coral todo cantava de pé. O coral foi usado justamente pra dar ênfase em alguns momentos de tensão e expectativa do filme, ou seja, meu cérebro que me obrigou a ficar mais focado no filme. Pôxa cérebro!
Cada detalhe do Royal Albert Hall parecia prestar tanta atenção quanto eu na música e no filme. Eu e as outras cerca de cinco mil pessoas que fizemos daquela noite a maior noite do cinema na Europa, como qualquer outra noite do Films in Concert.
Mesmo assim, pra mim era especial. Entendo que já houveram vários eventos no Royal Albert Hall, mas pra mim, naquela noite tudo era especial. Não era minha primeira vez no Hall, não era minha primeira vez vendo este filme, não era a primeira vez ouvindo as músicas do filme, ou a da orquestra tocando elas; mas era a primeira vez que tudo isso acontecia junto, naquele lugar. Pra mim é isso que precisa ser especial numa experiência como esta. A conexão com o momento e a singularidade. Ser Harry Potter, pra minha surpresa, acabou sendo um detalhe. O conjunto do momento é que tornou tudo único.
A ideia não é a mesma de ir ao cinema, de comprar um ticket pra assistir alguma novidade. Bem pelo contrário, a ideia é na verdade ser fã de algum filme, fã de cinema no geral ou fã de música clássica, e ver a magia acontecendo bem na tua frente. Fazer parte dela. O filme deixa de ser exibido numa tela e passa a virar realidade ali, palpável.
No site do Royal Albert Hall tem o calendário completo dos próximos clássicos que vão ser exibidos.