Auschwitz: o campo de concentração mais marcante da história

por Rafa
14 abril 2019

O trabalho liberta.” Essa era a frase que os prisioneiros liam ao atravessar os portões de Auschwitz. Em alemão, “Arbeit macht frei” — com um detalhe: a letra B de cabeça para baixo. Um ato silencioso de resistência, uma mensagem oculta deixada pelos prisioneiros que instalaram a placa.

Visitar Auschwitz é uma experiência que vai muito além de turismo. É uma aula de história, um soco no estômago, e um lembrete eterno de até onde o ser humano pode chegar quando ódio, preconceito e autoritarismo tomam conta.

Neste post vou compartilhar minha visita a Auschwitz, como cheguei até lá, o que senti e aprendi, e também informações práticas pra quem deseja conhecer o local.

👉 Leia também: Segunda Guerra Mundial: o racionamento


A chegada a Auschwitz: privilégio e reflexão

Em 2019, fui de trem até Oświęcim, a estação mais próxima de Auschwitz. O trajeto foi simples: 24 horas de Londres até a Polônia, com direito a refeições, banho e descanso. Mas ali já começou o choque: essa mesma viagem, 80 anos atrás, podia durar até 11 dias em vagões superlotados, onde a única pausa era pra esvaziar uma lata de excremento.

Anne Frank, por exemplo, “teve sorte”: o trem dela levou apenas três dias até Auschwitz. Essa comparação me fez enxergar ainda mais os privilégios da minha viagem e a brutalidade daqueles tempos.


A seleção e a ilusão das malas 🎒

Logo ao chegar, os prisioneiros eram separados: aptos ao trabalho iam para um lado; os demais, direto para a câmara de gás. A promessa era de um banho quente e comida. Muitos corriam para se despir, acreditando que estavam a minutos de alívio. Na realidade, era o fim.

As malas com nomes e endereços, ainda hoje expostas, reforçam a crueldade da farsa: faziam os prisioneiros acreditarem que teriam seus pertences de volta. Cada mala é uma vida interrompida, uma família destruída.

Malas antigas com nomes escritos, preservadas no Museu de Auschwitz.

Malas com nomes de prisioneiros, memória das vítimas deportadas ao campo de concentração de Auschwitz.


A câmara de gás: o silêncio em 20 minutos

Entrar numa câmara de gás em Auschwitz é sentir um peso indescritível. Eu me senti envergonhado, como se tivesse chegado tarde demais para fazer algo. A mente viaja: pessoas espremidas, gritos, sufocamento. Em 20 minutos, o silêncio.

No auge, cerca de 4 mil pessoas eram mortas por dia em Auschwitz. Imagine quatro aviões caindo, todos os dias, por três anos seguidos. É essa a dimensão do horror.

Interior de câmara de gás em Auschwitz, com paredes de concreto e iluminação artificial.

O interior sombrio de uma câmara de gás em Auschwitz, símbolo da tragédia e memória do Holocausto.


O Sonderkommando e os crematórios

Após a morte, os corpos eram incinerados nos crematórios. O trabalho era feito pelos próprios prisioneiros, conhecidos como Sonderkommando. Ver amigos, vizinhos ou parentes indo para o fogo era parte do castigo. Reagir não era opção: cercas elétricas de 400v e guardas armados garantiam o silêncio.


Julgamentos, punições e experimentos

  • Julgamentos injustos: qualquer acusação (até perder um botão da roupa ou roubar casca de batata) resultava em condenação. Absolvições? Zero.

  • Bloco 10: palco de experimentos médicos em mulheres, com injeções, dissecações e testes cruéis.

  • Forcas públicas: usadas para quem tentava escapar. Os prisioneiros eram obrigados a assistir, como forma de intimidação.


Objetos, memórias e a desumanização

O museu exibe óculos, escovas de cabelo, aparelhos de barbear e até tranças de vítimas. Esses objetos, banais em vida, se transformam em testemunhas silenciosas de crimes hediondos.

Até os cabelos eram usados para fabricar tecidos e travesseiros. A desumanização era total.


A vida nos alojamentos

  • Camas de madeira: três andares, divididas por até 5 pessoas.

  • Topo: frio extremo.

  • Andar inferior: sujeira e doenças, já que líquidos de diarreia ou hemorragias caíam das camas de cima.

  • Alimentação: uma vasilha usada como prato, pia e banheiro ao mesmo tempo.

Interior de barracão em Auschwitz-Birkenau com beliches de tijolos usados por prisioneiros.

Interior de um barracão em Auschwitz-Birkenau, onde prisioneiros eram obrigados a dormir em beliches coletivos em condições desumanas.


O que Auschwitz ensina até hoje 🌍

Visitar Auschwitz é mais do que conhecer a história do Holocausto. É um alerta eterno contra regimes autoritários, preconceito e indiferença.

As lições são muitas:

  • O que o poder pode fazer com um “líder” corrompido.

  • Até onde o ódio pode chegar quando normalizado.

  • Como a alienação permite que atrocidades se repitam.

  • A importância de valorizar privilégios como moradia, comida e liberdade.

Nada justifica. Nada perdoa. Mas lembrar é fundamental. ✡️


Como visitar Auschwitz

  • Locais: Auschwitz I (museu conservado) e Auschwitz II-Birkenau (alojamentos e ruínas).

  • Aeroportos mais próximos: Cracóvia e Katowice.

  • Transporte: trem até Oświęcim + 20 minutos de caminhada até Auschwitz I.

  • Entrada: gratuita em vários horários. Nos demais, apenas com educador (guia oficial).

  • Tour guiado: dura 3h30, custa 60 zł. Guias falam inglês, espanhol, polonês, alemão e italiano.

  • Transporte interno: grátis entre Auschwitz I e II.

  • Reservas: site oficial do Auschwitz-Birkenau Memorial. (o site Guri In London não se responsabiliza pelas compras feita através deste link)

👉 Minha recomendação: faça a visita guiada. Os educadores trazem detalhes que transformam a experiência.

Edifícios de tijolos no campo de concentração de Auschwitz em um dia ensolarado.

Vista das construções de tijolos em Auschwitz, um dos locais históricos mais marcantes da Segunda Guerra Mundial.


Auschwitz, uma lição eterna

Saí de Auschwitz carregando um peso que não se explica. Tristeza, vergonha, reflexão… mas também gratidão por viver em liberdade e por existir um lugar que mantém essa memória viva.

Visitar Auschwitz não é turismo comum — é um dever de memória.
É aprender com os erros do passado para não repeti-los.
É olhar para a escuridão e lembrar que só a lembrança mantém a humanidade alerta.

✡️ Nunca esquecer. Nunca repetir.

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Liliane
Liliane
5 years ago

Como fez para ir de Londres até Katowice? Avião?

Eudesia
Eudesia
6 years ago

Para mim, professora de história, senti nos ossos e no coração a sua emoção em forma de palavras. Não tenho coragem de visitar esse lugar mas aos seus olhos respirei a história,o sofrimento e a certeza de que aquele lugar nos chama a responsabilidade de sermos humanos o suficiente para que nada disso aconteça novamente. Parabéns pela narrativa. Me emocionou por completo.

Ezequiel
Ezequiel
6 years ago

Parabéns. Parabéns. Parabens. !!!!
Só ter ido já faz de vc um cara especial. Ter relatado tão bem faz de nós especiais em saber mais sobre esta atrocidade. E tem gente que usa a palavra Holocausto em comparações. Nada se compara.
Continue sensível e humano.

Mônica Nunes
Mônica Nunes
6 years ago

Oi Rafa! Me emocionei com o seu relato. Não sou historiadora, sou uma curiosa estudante do passado. Sinto tristeza ao ver traços de um passado cruel no presente. Que bom que ainda existam pessoas que, olham para o passado para aprender e não repetir.

Janaina Valesca Maciel Cardoso
Janaina Valesca Maciel Cardoso
6 years ago

Oi Rafa. Eu visitei a casa de Anne Frank e senti tanta dor, tristeza e sofrimento que não sei explicar tão bem como você. Realmente é inacreditável tamanha crueldade. Obrigada por compartilhar tuas experiências. Estou contigo em cada post, stories e relatos. Abraços pra ti guri querido.

Maria Alice Assaf
Maria Alice Assaf
6 years ago

Eu acompanhei toda a sua viagem mas ler seu relato me fez cair em prantos. Muita tristeza e também muito medo por saber que a estupidez humana continua a mesma que sempre foi.

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