Em tempos de crises e pandemias, sempre é bom olhar pra história e ver como as coisas andavam. Há mais de 365 anos o comércio fechava e famílias se isolavam em uma Londres muito fedorenta. A Grande Peste de Londres matou cerca de 100 mil pessoas em 18 meses. A diferença de hoje é que a gente sabe a causa da peste e o que fez ela parar.
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1665. Londres era um fedor que era difícil de imaginar. Mas vou tentar: tudo o que era produzido de lixo era jogado pra fora da muralha da cidade (área que hoje compreende a City of London). Não existia nada de saneamento então as ruas eram mais que um fedor, era um local de festa pros ratos.
No século 14 já havia começado a chamada Segunda Pandemia com a Peste Negra. Tiveram algumas epidemias na Inglaterra, incluindo me 1503 (30 mil mortos) e 1625 (35 mil mortos), mas nada pode se comparar com a de 1665. Em 1663 teve um surto da peste em Hamburgo e em Amsterdam e isso fez com que os navios vindos de lá ficassem no porto de quarentena. Primeiro por 30 dias, depois por 40 dias.
Afinal uma das formas de contágio era por absorção de gotículas de tosse ou espirro. Mas o principal era que os ratos carregavam uma pulguinha, que por sua vez carregava a bactéria da peste. Na época ninguém sabia disso. Na verdade isso só foi descoberto em 1894 e confirmado por DNA em 2016.
Os ricos que ficaram na cidade usavam as hackney carriages (tipo uma carruagem mesmo) ou sedan chairs (carregados por outras pessoas) então não tinham contato com ratos ou muito menos com suas pulgas. Mas a maioria dos mais ricos foram pras suas casas no campo enquanto os pobres não tinham pra onde fugir e contraiam a peste. Eles tinham que continuar trabalhando, mas depois de um tempo muitos fecharam suas portas.
As pessoas que eram contaminadas pela peste tinham que ficar isoladas em casa com toda sua família e era pintada uma cruz na porta e escrito "Senhor tenha piedade de nós". Claro que eventualmente todos ficavam contaminados e morriam. Havia uma profissão na época chamado "searcher of the death", os "procuradores da morte" que faziam o registro dos mortos. Eles averiguavam a causa da morte e a registravam. Algumas pessoas pagavam eles pra não registrarem a causa sendo a peste porque senão toda a família teria que se isolar. Por isso o número oficial é 68 mil, mas o aceito é 100 mil.
Daniel Defoe (aquele de Robinson Crusoe) escreveu no jornal sobre a peste (que tu pode ler todo aqui) que "não se via nada além de carroças com bens, mulheres, serviçais, crianças, carruagens cheias de pessoas do melhor tipo, e cavaleiros cuidando deles e todos fugindo".
O rei Charles II também foi pro interior e só retornou em fevereiro de 1666 quando foi considerado seguro pra se fazer. Vendo isso, todas as outras famílias que tinham saído de Londres também retornaram.
A principal medida para frear as contaminações foi o isolamento, com poucas pessoas saindo de casa, tudo reduzindo e eventualmente passando.
Hoje isso seria inimaginável pra gente, mas estamos vivendo exatamente este mesmo ambiente - sem o fedor nas ruas e conhecendo a causa disso. Claro que se sabe pouco sobre o vírus em si, mas ainda assim temos respostas que alguns anos atrás não teríamos. Mas ainda assim, a natureza tem seu jeito de funcionar e, apesar de a gente estar mal acostumado com o imediatismo em respostas ou soluções, este não é o caso agora.
O importante é manter a calma, levar isso a sério, seguir as instruções dos órgãos de saúde e seguir em frente. Logo isso tudo passa e vira história.
Gostei do texto. Só acrescento que uma das formas de cura foi manter acesas tochas, dia e noite, para "purificar" o ar, espalhar, por todos os cantos, pimenta e resina aromática e, claro, isolar-se.