Guri no Marrocos: Marrakesh

por Rafa
13 março 2016

Te recomendo ver o vídeo/ler primeiro o primeiro post desta viagem, sobre Rabat e Casablanca.

Pois bem, eu havia terminado o post da primeira parte da viagem dizendo que o trem até Marrakesh foi uma aventura né? Pois bem...

Lá estava o Rafael na estação de Casablanca impressionado como um país como o Marrocos podia ter uma malha ferroviária tão eficiente e tudo mais. Eis que o trem atrasa 15 minutos (OK pros nosso padrões, vai...) e o trem... Meus amigos, o trem... Nem se compara com o da primeira parte da viagem que era todo moderno, confortável, até com ar condicionado. Não. O deste trecho era exatamente o oposto disso. Ele estava vindo de algum lugar, que eu ainda acredito que era da Feiolândia. Assim, tive que ir de pé no fundo de um vagão. Mas claro que não era só eu, era eu e mais uns dez. Com uma mochila no chão, a outra em cima dela, câmera a punho, lá fomos nós rumo a Marrakesh. Com o vagão de porta aberta, alguns passageiros sentados na porta do vagão e de-lhe falar árabe.

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Lá pelas tantas um senhor entra no vagão e fala comigo em árabe. Eu respondi em inglês que não falava a língua dele. Ele me pediu licença em inglês, pra poder colocar a mala dele ao lado da minha mochila. OK, vai lá tio! Ele colocou a mala dele e minhas mochilas sob ela. Alguns até ficavam me olhando meio de canto por eu estar fotografando e filmando, mas claro, sem falar nada. Eles são muito queridos e educados os marroquinos, importante registrar isso.

Este trecho de trem foi de 3h30, mas cerca de meia hora depois que o tiozão da mala entrou no trem lá estava eu filmando a paisagem quando ele me larga um "YOU! COME WITH ME!" pegando a mala dele e uma das minhas mochilas e indo pra parte do trem onde estavam os compartimentos. Obedeci e ele me levou pra um dos compartimentos que estava com três dos oito acentos vagos. Também colocou minha mochila no compartimento de bagagens (num lugar que eu nem alcançaria por motivo de altura). E me ordenou "SIT DOWN". Quase larguei um SIR YES SIR SORRY SIR.

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Seguimos o restante da viagem em silêncio. Eu na verdade, porque eles começaram a interagir um com o outro, sendo que recém haviam se conhecido. Era árabe pra lá, árabe pra cá, e eu no meu canto sem entender nada. Até que precisava ir no banheiro. Fui, deixei minhas duas mochilas, rezando pra que tudo estivesse no lugar quando voltasse. Tudo estava no lugar quando voltei. Mas não posso deixar passar em branco o banheiro... Pra começar não tinha como fechar a porta direito. O vaso estava lá. Mas logo abaixo dele não tinha cano nenhum. Tipo pra quê? Já vai ficando tudo pelo caminho, poupa trabalho depois né? Lavar a mão é dispensável pra todo mundo porque a pia não funcionava.

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Quando voltei pro meu assento (e depois de conferir se minhas coisas ainda estavam lá, e tavam, relaxa...) parei pra analisar a situação: eu, no meio de sabe-Deus-onde, com sete pessoas ao meu redor falando uma língua que eu não conseguia entender uma mísera palavra. Sim pai, eu fiz isso. E passou mais uns minutos, as pessoas puxaram papo comigo. Na realidade o tio que havia me ajudado (que sem surpresa nenhuma o nome dele era Mohammed). Perguntou de onde eu era, achou que eu era inglês, mas claro que não pela cara mas sim porque minha mochila era do Chelsea. Pois bem, conversa foi e conversa veio e ele acabou me dando dicas de como chegar ao meu hotel, disse que seria bem fácil, que se precisasse era pra eu ligar pra ele e até me adicionou no Facebook (da próxima vez vou ficar na casa da mãe dele). Agradeci demais pela ajuda e ele só largou um "no problems. We are all brothers". #aplausos

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Bom, agora tirando o holofote do trem, em Marrakesh fui da estação ao hostel a pé mesmo, debaixo de sol, com mochila nas costas e sorvete na mão. Quando estava quase chegando onde achava ser o hostel, e depois de mudar minha rota umas três vezes, aconteceu comigo o que tanto li a respeito.

Quando estava entrando numa ruela bem estreita (que no Marrocos é apenas mais uma rua normal) com minhas duas mochilas e minha cara de perdido estampada, um guri de uns 17/18 anos notou tudo isso e gritou "Marrakesh Rouge" e eu concordei. Afinal já havia me perdido três vezes. Ele sabia de algo que eu não sabia (onde estava meu hostel, só pra deixar claro). Eu sabia que teria que pagar algo pra ele, afinal de contas foi isso que havia lido sobre o Marrocos: as pessoas não dão informação de graça. Chegando na porta do hostel ele não hesitou em me cobrar os $ 200 pelo "serviço". Eu disse que era caro, tentei argumentar, mas não rolou. Acabei pagando pois pra mim era algo como £ 14. Considerei como uma doação e parei de pensar naquilo porque não queria estragar minha viagem com isso.

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A receptividade é muito levada a sério no Marrocos. Não foi diferente no hostel. A recepção incluiu um chá de menta muito popular por lá e um pedaço de bolo; o gerente me deu 50 mil explicações sobre a cidade; e outro funcionário me encaminhou pro quarto. Ele não tinha porta, mas era tranquilo... Ficava numa parte mais afastada e o hostel era naquele estilo de casas antigas que é normal no Marrocos, então a porta que tinha era só simbólica mesmo.

Nesta noite acabei comendo outro prato famoso da cozinha marroquina: o cuscuz. O que também vi que era normal é servirem sempre azeitonas e pão como uma entradinha.

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Um programa que qualquer pessoa que vai a Marrakesh faz é caminhar pela medina. Mas o legal é que no meu caminho até lá estava o museu da cidade. Não acho que valha tanto a pena quanto a Escola Corânica Ben Youssef. O prédio do local é lindo. Cada detalhe naquilo que é de babar. É possível visitar os dormitórios e vários espaços e cada um tem um estilo arquitetônico que chama atenção. Não tem muitas explicações, é basicamente apenas o prédio, mas realmente muito bonito e pra mim valeu mais a pena que o museu, além de ser mais barato ($ 20 = R$ 10).

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O Mercado de Especiarias da medina não é muito grande, mas realmente é muito legal. Tem a essência do Marrocos naquele mercado, com cores e cheiros de todos os tipos (bons e ruins, diga-se de passagem), chás, ervas, pó e grão de tudo que é tipo. Todos os vendedores são amigáveis e dispostos a fotografar. E claro, insistentes, mas enfim... Um deles acabou me mostrando vários tipos de ervas e chás que ele possuía, me ofereceu um chá que eu realmente gostei e acabei pedindo pra comprar um pacote. O preço original era de $ 130. Eu disse que não queria tudo aquilo mas ao invés de tirar, ele apenas baixou o preço. Pra $ 80. Depois de muito insistir pra ele tirar meio pacote ele acabou baixando pra $ 70 quando eu falei que era Brasileiro. Sim, estamos quebrados amigo.

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Perto dali fica a famosa praça Jemaa el-Fna. O que tem lá? Muita coisa. Muita gente, muita gente comprando e vendendo, barracas de sucos e locais pra comer (como se fossem restaurantes improvisados mesmo) e além disso: lutinhas de boxe, danças, mágica e macacos que davam piruetas. Agora aqui fica outro alerta: se for tirar foto com o macaco, ou dele, vai ter que pagar. A mesma coisa vale pros encantadores de serpentes, já sabe. E vi várias discussões porque as pessoas fotografavam e não pagavam. Eu não fiz nem questão de fotografar o pobre do animal. O dono, eu me refiro. O macaco estava tão infeliz naquela posição (por que será?) que eles se dependuravam na corrente tentando se soltar. Dá uma tristeza e revolta só de lembrar.

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De volta a Jamaa el-Fna, tem um café que tem um terraço bem grande e fica bem em frente à praça. Um ótimo ponto pra fotografar. Mas não é só chegar, subir, fotografar e sair feliz da vida. Tem que consumir alguma coisa. E pra garantir que tu vai consumir já na entrada é onde tu faz o pedido. Não pede nada? Não entra. A água lá custa $ 10 (cinco vezes o preço normal).

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O palácio El Badi ($ 10) é muito bonito mas como são as ruínas do palácio que lá existia, não tem sombra nenhuma e acho que já deu pra entender que o calor meio que me enche o saco né? Originalmente ele foi construído pelo rei Ahmad al-Mansur como uma celebração por ter ganho a Batalha dos Três Reis, contra, inclusive, Portugal. O Palácio El Badi foi construído boa parte com grana de resgate de Portugal (que por sua vez viera de onde será?) que deixou o país empobrecido.

A vida do Palácio foi curta, com menos de 100 anos, porque quando uma nova dinastia assumiu o trono, os pertences foram retirados pra construção de um novo palácio (mas que coisa!) e o El Badi demolido.

Queria ver também o Palais Royale, mesmo que por fora (afinal hoje ele é de um empresário francês) e porque não é todo dia que se vê um prédio do século 12. Ou é, afinal a Torre de Londres data do século 11, mas enfim... Como não conseguia encontrar acabei pedindo ajuda pra um morador que adivinha? Isso mesmo: me deu informação e pediu dinheiro. Quando disse que não tinha nada ele insistiu e acabei dando $ 15. Ele disse que aquilo não era nada. Lembrei do que já tinha rolado em Rabat e bati o pé, disse que não tinha mais nada. Ele agradeceu, deu um aperto de mão e foi embora. Mas que bah!

As Saadian Tombs são sepulturas da época da dinastia do rei do El Badi (Ahmad al-Mansur)! Confesso que a principal finalidade pra mim foi a mesma de muitos dos locais que havia visitado: reparar na beleza arquitetônica e ponto final. Algo que 15 minutos resolvam (nesta atração eu diria que até menos).

Tenho alguns poucos Dirham (até parecido com dimdim) e pensei em dar uma olhada na medina se algo me atraía. Não tinha nada que eu realmente quisesse, mas acabei avistando uns relógios e pensei UÉ! POR QUE NÃO!? Lá fui eu. O preço dele era $ 650. Eu disse que meu orçamento era R$ 250, que eu queria ver algo dentro deste valor. Ele continuou insistindo no primeiro relógio e baixando o preço dele. Resumindo cinco minutos de explica/insiste/agradece ele acabou baixando as $ 400 e me vendendo o tal relógio por $ 250. Neste caminho todo de negociação ele quis me ensinar a negociar, dizendo que ele estava baixando o preç, mas que eu também precisaria aumentar minha oferta. O que ele não sabia é que eu, de fato, só tinha $ 250, não estava negociando, apenas tentando comprar um relógio por aquele valor.

O relógio parou de funcionar já no dia seguinte e quem disse que eu consegui achar a tendinha de novo!? Ainda hoje ele para sempre às 9h.

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Aquela pracinha central de nome estranho rende um pôr do sol muito bonito e muito ignorado, porque é tanta coisa pra ver que as pessoas não se prendem ao olhar o espetáculo do sol. Ele tá lá todos os dias né, afinal. Já o tiozão que vende água e se veste de um jeito tri não. E justamente eles que, ao me ver com a câmera na mão, ficava fazendo pose e sinal pra eu fazer foto dele. Eu agradeci umas trocentas vezes porque 1) já tinha fotografado um daqueles tios em Casablanca e 2) sabia que ele queria só faturar uns dinheiros. Da sacada do café que citei antes eu vi que ele tinha cobrado um outro casal, pedido mais, o cara pagou mais, e ele ainda queria mais, até  que o cara negou e foi embora. Tô pra dizer que nem água naquele recipiente não tinha.

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No dia de ir embora tinha que levantar por volta de 8h pra pegar meu voo mas o tiozinho que uiva na mesquita fez o favor de me acordar. Dizem que a Rainha tem o tocador de gaita escocesa oficial dela né? Pois no Marrocos todos temos um uivador oficial também. Peguei o táxi pro aeroporto (de $ 150 por $ 130).

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Conversando com uma mulher da Inglaterra no hostel descobri uma experiência que ainda quero fazer, de ficar duas noites no deserto (uma num hotel e outra acampando) por cerca de $ 250, já com duas horas de camelo também incluso no pacote. Eu fiquei babando e coloquei na minha lista de desejos pra quando voltar. Porque sim, a hospitalidade, belezas naturais e de arquitetura, comida e história são de querer voltar.

E você já foi ao Marrocos? Tem vontade de ir? Me conta ali nos comentários o que achou do país e/ou deste post, beleza? 😉

* Clique aqui pra ler o post anterior, sobre Rabat e Casablanca.

* Rafa Maciel viajou ao Marrocos a convite dele mesmo.

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Laura
Laura
5 years ago

Estou indo pra Marrocos e adorei seu post. Alegrou minha noite.

Paula
Paula
7 years ago

Sempre que possível vejo vídeos de brasileiros que já visitaram o Marrocos... e sem dúvidas os seus foram hilários...rir muito com sua maneira de vê muitas coisas. Estou de viagem marcada para lá em Outubro deste ano e espero me divertir muito...só torço para não ter tantas buzinas...kkk odeio e o sol...só de você comentar ja sentir calor...affs kkkk
Parabéns adorei o vídeo

Rejane
Rejane
7 years ago

Oiiiii guri!!!!
Vc me deu super dicas para Londres pelo seus videos... e agora eu preste a embarcar em um bate e volta a Marraquexe, procurando videos... vc aparece pra me salvar novamente!!!!
Vamos as perguntas, vc visitou pubs ou algo semelhante em Marraquexe? Ouvi dizer que os banheiros publicos nao sao aconselhaveis, e com relacao aos banheiros nos hoteis/hostels?
Abracos e parabens pelo excelente trabalho!!!!

Safya
Safya
7 years ago

oi Rafa,fiquei curiosa assisti o video em rabat e casa blanca,achei cidades bem sujas marrakech não me pareceu tanto,estou certa?Estou pensando em ir!!!e transporte em Marrakech tem bastante opções para se locomover dentro da cidade?

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